sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O fim do Cordel

Expressão artística nordestina de literatura que acabou se tornando música, teatro e até novela... 
O Cordel do Fogo Encantado é uma banda pernambucana de Arco Verde e suas músicas estão carregadas de versos maravilhosos que descrevem o sertão nordestino e suas peculiaridades. A melodia é impressionantemente forte e ritmada, entra pelos ouvidos e não deixa-nos indiferentes. 
Várias poesias são interpretadas e sentidas pelo grupo, que, na voz de Clayton Barros nos transporta para uma terra seca mas linda. Entre minhas preferidas está "Ai se sesse" do poeta Zé da Luz.


Ai Se Sêsse
Composição : Zé Da Luz
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

Há ainda músicas que nos envolvem como Chover, Poeira e Toada Velha Cansada. A melodia de Os Oim do Meu Amor encanta e não sai da cabeça!

Chover (ou Invocação Para Um Dia Líquido)
Composição : Lirinha; Clayton Barros
"O sabiá no sertão
Quando canta me comove,
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove*
Chover chover
Valei-me Ciço o que posso fazer
Chover chover
Um terço pesado pra chuva descer
Chover chover
Até Maria deixou de moer
Chover chover
Banzo Batista, bagaço e banguê
Chover chover
Cego Aderaldo peleja pra ver
Chover chover
Já que meu olho cansou de chover
Chover chover
Até Maria deixou de moer
Chover chover
Banzo Batista, bagaço e banguê
Meu povo não vá simbora
Pela Itapemirim
Pois mesmo perto do fim
Nosso sertão tem melhora
O céu tá calado agora
Mais vai dar cada trovão
De escapulir torrão
De paredão de tapera**
Bombo trovejou a chuva choveu
Choveu choveu
Lula Calixto virando Mateus
Choveu choveu
O bucho cheio de tudo que deu
Choveu choveu
suor e canseira depois que comeu
Choveu choveu
Zabumba zunindo no colo de Deus
Choveu choveu
Inácio e Romano meu verso e o teu
Choveu choveu
Água dos olhos que a seca bebeu
Quando chove no sertão
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um boi pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola**
Seu boiadeiro por aqui choveu
Seu boiadeiro por aqui choveu
Choveu que amarrotou
Foi tanta água que meu boi nadou***

Os Oim Do Meu Amor
Ê nunca mais eu vi
Os oím do meu amor
Nunca mais eu vi
Os oím dela brilhar
Nunca mais eu vi
Os oím do meu amor
São dois jarrinho de flor
E todo mundo quer cheirar


Nesses 14 anos de estrada gravaram 3 álbuns próprios com músicas autorais. Mas agora a banda chegou ao seu fim. pesquisando na net sobre a banda e tentando encontrar informações sobre shows pra postar me deparei com as informações que transcrevo abaixo, retiradas do site http://cordeldofogoencantado.com.br/ .

Infelizmente, quem não viu o show perdeu um grande espetáculo! Nos restam, aos fãs como eu, embalar nossas vidas ao som do Cordel, queimando o fogo encantado dos nossos corações!
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Comunicamos o encerramento das atividades artísticas da banda Cordel do Fogo Encantado.


Esta decisão implica na suspensão das apresentações ao vivo, como também da gravação em estúdio de material inédito.

A disposição em suspender suas atividades passa por decisões pessoais do fundador da banda, Jose Paes de Lira (Lirinha), expressas em seu comunicado abaixo, que implicam na impossibilidade de continuidade do grupo. Contudo, mantêm intactas as relações de profunda amizade, respeito profissional e carinho cultivadas entre os integrantes da banda, equipe técnica e produção, solidamente construídas nesses onze anos de convivência.

Estamos certos que nesse tempo realizamos um trabalho de referência na nova música pernambucana e brasileira.

A banda, em decisão conjunta com a produção, deverá lançar em breve registro de áudio e vídeo AO VIVO da apresentação realizada na praça do Marco Zero, Recife, no dia 14 de fevereiro de 2010, considerado por muitos um show histórico.

O grupo também pretende lançar material de arquivo selecionado entre registros realizados ao longo dos seus onze anos de existência.

Cordel do Fogo Encantado manterá em atividade seu site oficial (www.cordeldofogoencantado.com.br) através do qual informará seu público sobre os lançamentos dos registros acima citados e sobre outros temas que se fizerem necessários.

Atenciosamente,

Antonio Gutierrez
Produção – Cordel do Fogo Encantado

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COMUNICADO - JOSÉ PAES DE LIRA

Com a permissão dos Encantados, sempre:

Anuncio a minha saída da banda Cordel do Fogo Encantado.

São 14 anos de trabalho ininterrupto (11 anos de banda e 3 anos de peça teatral de mesmo nome).

O grupo que é independente desde a sua origem, com integrantes do sertão de Pernambuco (Arcoverde) e do Morro da Conceição (Recife) se tornou uma das bandas mais ativas do cenário de shows da música brasileira. Isso aconteceu com a total entrega dos participantes e a verdade da mensagem emitida.

É com muita dificuldade que redijo essa informação, devido ao imenso amor que eu sinto pelo público e pelos meus companheiros/guerreiros do projeto.

Revelo, por respeito aos que me acompanham, a minha vital necessidade de trilhar novos caminhos.

Ajudei a desenvolver um dos espetáculos mais originais da cultura pop do país e é com esse sentimento de orgulho que sigo em frente.

Com a certeza de que o fogo da nossa poesia e da nossa música nunca se apagará e que nossa força é infinita.

Abraço forte,

José Paes de Lira, Lirinha.
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Carta Sobre o Fim do Cordel do Fogo Encantado

Hoje depois da poeira e da tempestade, sob o céu promissor do Cariri, resolvi escrever.

Escrevo de coração aberto e mente sã. Com tamanho respeito e consideração aos meus parceiros de estrada, quando muitas vezes longe de casa e da família aliviava a carga da saudade, lutando com unhas e dentes em prol da realização desse sonho. Mas o sonho acabou.

Mas que, vivido em sua plenitude tornou-se realidade das mais concretas: três álbuns autorais, um DVD e inúmeros shows. Viagens magníficas pelo país, diversos sotaques que certificam a minha impressão do Brasil como um grande continente unido num só idioma, cantado em diferentes ritmos e melodias.

Decidi escrever pensando nas tantas pessoas que nos seguiram, alguns em condições difíceis, sem hospedagem, pouca grana, coração nas mãos em terra estranha. Esses que iluminaram o chão com seus olhares de prazer e satisfação, fazendo de cada show uma celebração.

Sinto-me feliz por ter cumprido a minha parte nessa escuderia, Cavaleiro da Ordem do Deserto.

Mas esperava um outro fim, mais digno, diante tanto trabalho e dedicação. Não posso omitir que já enxergava os últimos passos dessa empreitada, também não posso negar certa frustração, estando bem perto da realização do que seria nosso último álbum, um naufrágio em plena praia, embarcação abandonada. Confesso que não há em mim sentimento algum de intriga ou inimizade, tenho amor e admiração por todos: Raphael Almeida, Nego Henrique, Lirinha e Emerson Calado.

Acreditava no que havíamos combinado desde muito antes, um fim estruturado e todas as etapas concluídas, dando fôlego aos trabalhos individuais de cada integrante pós-cordel e em respeito ao público. Mas se cada passo faz parte do progresso, o fim também carrega outro começo.

E assim depois da poeira e da tempestade pretendo seguir, na música, dando continuidade ao que foi pausado, por conta de total entrega ao Cordel do Fogo Encantado.

Meus trabalhos com música infantil, trilhas para teatro e principalmente minha carreira solo, junto aos meus grandes amigos e grandes músicos: Deco Trombone, o baixista Rafael Duarte e o baterista Perna, do Alto José do Pinho.

É com essa perspectiva de novos projetos que desejo`a todos os meus camaradas: Raphael Almeida, Nego Henrique, Emerson Calado, Lirinha e aos técnicos que fizeram parte da banda: Jathyles Miranda, Jailson Pereira, Ricardo Bolognini, Luiz Ferreira, Álvaro Mota, Wellington Nunes, Gigante César, Luiz Maranho, Murilo Luthier e aos produtores: Mauro Fernandes e Antônio Gutierrez, sucesso e muita saúde pra vocês e suas famílias, sabendo que nossa força se renova a cada trabalho realizado.

Peço licença às “Energias do Encantado” que sempre nos acompanharam e nunca nos deixarão, com toda humildade prossigo.

Do fundo do meu coração, meu muito obrigado ao público, sempre fiel e incisivo, esta carta é minha forma de agradecê-los!

Arrêia!!
Clayton Barros.


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