segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Umbanda verde

Umbanda Verde: União com Ibeji

            O hábito de se fazer oferendas não é novo e não foi criado por nenhuma das religiões que existem atualmente, é um costume inerente à humanidade desde as primeiras civilizações humanas. Na Umbanda a oferenda tem significados mais amplos, ligados ao divino, ao natural e ao espiritual, fazendo um equilíbrio e sustentando os procedimentos magísticos, entre eles, as oferendas.
            Como sabemos, um Orixá não bebe e não come, mas conhece toda a ciência dos teores e dos princípios mágicos e energéticos. Todo Orixá é ligado ao Cosmo de alguma forma e assim também à Terra e desta maneira é necessário reavaliar as oferendas, de modo a deixá-las mais próximas do natural. “Nas religiões naturais, de culto a Deus e Divindades na natureza, no geral se pratica a oferenda daquilo que vem da natureza, ou seja, flores, frutos, grãos etc. A Umbanda é uma religião natural.”
            Oferendar também é uma forma de presentear e garrafas, plásticos e copos descartáveis não são presentes. Presenteie com a natureza!
            Este mês é celebrado a alegria de Ibeji e como não podia deixar de ser, as oferendas mais comuns são doces e refrigerantes, sempre com adornos rosa e azuis e brinquedos. Para estas oferendas, a sugestão da Umbanda verde é sempre desembalar os doces, pois as embalagens demoram a se decompor no ambiente, causando sujeira no local da oferenda, o vento desloca-as facilmente e a chuva pode levá-las para tubulações de esgoto; Outra possibilidade é usar papel de seda ao invés de tecidos ou o famoso TNT (tecido-não-tecido). Embora exista TNT biodegradável, ele não é facilmente encontrado e seu custo é mais alto. As velas podem ser brancas, cor-de-rosa e azul-claro e deve-se esperar a queima total quando for feito em jardins ou campos floridos, para evitar acidentes; as fitas e as linhas usadas também podem ser biodegradáveis, que já são bastante comuns; as frutas (uva, pêra, pêssego, goiaba, maçã, morango, cerejas e ameixas) podem ser depositadas sobre folhas naturais; as comidas (doces de frutas, arroz-doce, cocadas, balas, bolos e quindins) podem ser oferecidos em alguidar (prato de barro) ou também sobre folhas naturais; as bebidas (refrigerantes, água de coco e suco de frutas) podem ser oferecidos em copos de barro ou servidos em copos biodegradáveis. Há uma boa opção de copos descartáveis biodegradáveis aqui no Brasil que é o copo a base de mandioca, que não usa componentes do petróleo em sua composição. Porém, o ideal ao fazer a oferenda em um jardim é retirar tudo depois da queima das velas.
            Para as oferendas de brinquedos é ideal oferecer diretamente ao Ibeji incorporado, assim ele fará uso quando quiser. Outra idéia muito comum em terreiros pelo Brasil é fazer a oferenda de brinquedos entre crianças carentes, bem como festas em abrigos ou orfanatos, assim tudo é consumido e os dejetos devidamente encaminhados para coleta.
            A Umbanda é caridade e o umbandista deve se preocupar com o impacto que causa no ambiente, ligando-se cada vez mais aos Orixás.
Salve a Umbanda! Salve o verde!


Me dou o direito

Me dou o direito
De não fazer nada que me sinta obrigada
De sustentar o meu não
De não ficar calada
Quando os desmandos forem sufocantes demais.

Meu dou o direito
De me assumir negra, mesmo que branca na pele
O sangue é negro
E índio
E grego.
Mas primeiro negro,
Com sangue, suor e lágrimas, como já disseram
Com chibatadas, rezas e mandingas
Com mironga e vela acesa.
Pra suportar o cativeiro imposto.
Muito antes do que se via nos livros
Muito antes do que se deixaram contar.
E mesmo índio,
Quando veio a doença, a manipulação e a mentira
Quando veio a fome, a luta e a carne
Canibal de dores tantas
Dores que a história branca contada
Não tira.

Tantas outras sou eu
Na barra da saia da mãe lavadeira
Separando roupa suja
E ganhando os restos.
Vivendo com mínimo
Mas brincando de noite
Com o sorriso da mãe a me olhar.
Uma mãe branca, pobre
Que como tantas mães negras
Carregava trouxa de roupa na cabeça.
Ensinando o que havia aprendido
Em casa de taipa, na roça
Não na escola.
Sou filha de uma mãe que lutou
Contra violências nunca ditas
Choradas no escuro.
Lutou
Pela educação dos filhos,
Pela própria liberdade,
Pelo divorcio,
Pela saúde perdida nas câmaras frias
Pelo direito a ser tratada
Quando o corpo não mais aguenta.

Se somos o resultado da nossa vivência
Ainda não me vejo completa
Tenho voz a gritar
Tenho lágrimas por mim
Por árvores e rios
Por pessoas que nem conheço
Grito
E choro.
Embora nem sempre pareça.
Sorrio também.

Me dou o direito
De gargalhar com a boca aberta
De sentar de perna aberta
De falar palavrão
De apreciar
E só.