O que quero aqui é apresentar algumas mulheres audaciosas do Brasil, pois vi muita informação sobre mulheres do mundo, mas poucas sobre brasileiras.
Carolina
Maria de Jesus
A
escritora brasileira Carolina Maria de Jesus durante noite de autógrafos do
lançamento de seu livro "Quarto de Despejo", em uma livraria na rua
Marconi, em São Paulo, em 1960
Eu
denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres,
somos os trastes velhos. A metáfora é forte e só poderia ser construída dessa
forma, em primeira pessoa, por alguém que viveu essa condição. Relatos como
este foram descobertos no final da década de 1950 nos diários da escritora
Carolina Maria de Jesus (1914-1977). Moradora da favela do Canindé, zona norte
de São Paulo, ela trabalhava como catadora e registrava o cotidiano da
comunidade em cadernos que encontrava no lixo. Ela é considerada uma das
primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil.
Nascida
em Sacramento (MG), Carolina mudou-se para a capital paulista em 1947, momento
em que surgiam as primeiras favelas na cidade. Apesar do pouco estudo, tendo cursado
apenas as séries iniciais do primário, ela reunia em casa mais de 20 cadernos
com testemunhos sobre o cotidiano da favela, um dos quais deu origem ao livro
“Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, publicado em 1960. Após o
lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares
vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países.
É
um documento sobre o que um sociólogo poderia fazer estudos profundos,
interpretar, mas não teria condição de ir ao cerne do problema e ela teve,
porque vivia a questão, avalia Audálio Dantas, jornalista que descobriu a
escritora em 1958. O encontro ocorreu quando o jornalista estava na comunidade
para fazer uma reportagem sobre a favela do Canindé. “Pode-se dizer que essa
foi a primeira favela que se aproximou do centro da cidade e isso constituía o
fato novo”, relembrou. Ele conta que Carolina vivia procurando alguém para
mostrar o seu trabalho.
Uma
mulher briguenta que ameaçava os vizinhos com a promessa de registrar as
discórdias em um livro. É assim que Audálio recorda Carolina nos primeiros
encontros. “Qualquer coisa ela dizia: Estou escrevendo um livro e vou colocar
vocês lá. Isso lhe dava autoridade”, relatou. Ao ser convidado por ela para
conhecer os cadernos, o jornalista se deparou com descrições de um cotidiano
que ele não conseguiria reportar em sua escrita. “Achei que devia parar com a
minha pesquisa, porque tinha quem contasse melhor do que eu. Ela tinha uma
força, dava pra perceber na leitura de dez linhas, uma força descritiva, um
talento incomum”, declarou.
Apesar
de os cadernos conterem contos, poesias e romances, Audálio se deteve apenas em
um diário, iniciado em 1955. Parte do material foi publicado em 1958,
primeiramente, em uma edição do grupo Folha de S.Paulo e, no ano seguinte, na
revista “O Cruzeiro”, inclusive com versão em espanhol. “Houve grande
repercussão. A ideia do livro coincidiu com o interesse da Editora Francisco
Alves”, relatou. O material, editado por Audálio, não precisou de correção.
“Selecionei os trechos mais significativos. O texto foi mantido na sintaxe
dela, na ortografia dela, tudo original”, apontou.
A
escritora brasileira Carolina Maria de Jesus é autora de "Quarto de
Despejo"
Entre
descrições comuns do cotidiano, como acordar, buscar água, fazer o café,
Audálio encontrou narrativas fortes que desvendavam a vida de uma mulher negra
da periferia. Ela conta que tinha um lixão perto da favela, onde ela ia catar
coisas. Lá, ela soube que um menino, chamado Dinho, tinha encontrado um pedaço
de carne estragada, comeu e morreu. Ela conta essa história sem comentário,
praticamente. Isso tem uma força extraordinária, exemplificou.
Para
Carolina, a vida tinha cores, mas, normalmente, essa não é uma referência
positiva. A fome, por exemplo, é amarela. Em um trecho do primeiro livro, a
autora discorre sobre o momento em que passa fome. Que efeito surpreendente faz
a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as
aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos. Para
Audálio, o depoimento ganha ainda mais importância por ser real. Um escritor
pode ficcionar isso, mas ela estava sentido, disse.
Audálio
relata que Carolina tinha muita confiança no próprio talento e já se
considerava uma escritora, mesmo antes da publicação. “Quando o livro saiu, a
alegria dela foi muito grande, mas era uma coisa esperada”, relatou. O sucesso
da primeira publicação, no entanto, não se repetiu nos outros títulos. Após o
sucesso de “Quarto de Despejo”, a Editora Francisco Alves encomendou mais uma
obra, a partir dos diários escritos por ela quando já morava no bairro Alto de
Santana, região de classe média. Surgiu então o “Casa de Alvenaria” (1961) que,
segundo o jornalista Audálio Dantas, responsável pela edição do material,
vendeu apenas 10 mil exemplares.
Audálio
lembra que Carolina se considerava uma artista e tinha pretensões de enveredar
por diferentes ramos artísticos. Um deles foi a música. Em 1961, ela lançou um
disco com o mesmo título de seu primeiro livro. A escritora interpreta 12
canções de sua autoria, entre elas, O Pobre e o Rico”. Rico faz guerra, pobre
não sabe por que. Pobre vai na guerra, tem que morrer. Pobre só pensa no arroz
e no feijão. Pobre não envolve nos negócios da nação, diz um trecho da canção.
Para
o jornalista, a escritora foi consumida como um produto que despertava
curiosidade, especialmente da classe média. Costumo dizer que ela foi um objeto
de consumo. Uma negra, favelada, semianalfabeta e que muita gente achava que
era impossível que alguém daquela condição escrevesse aquele livro, avaliou.
Essa desconfiança, segundo Audálio, fez com que muitos críticos considerassem a
obra uma fraude, cujo texto teria sido escrito por ele. A discussão era que ela
não era capaz ou, se escreveu, aquilo não era literatura, recordou.
Carolina
de Jesus publicou ainda o romance Pedaços de Fome e o livro “Provérbios”, ambos
em 1963. De acordo com Audálio, todos esses títulos foram custeados por ela e
não tiveram vendas significativas. Após a morte da escritora, em 1977, foram publicados
o Diário de Bitita, com recordações da infância e da juventude; Um Brasil para
Brasileiros (1982); Meu Estranho Diário; e Antologia Pessoal (1996).
https://educacao.uol.com.br/biografias/carolina-maria-de-jesus.htm
Mãe
Menininha do Gantois
Escolástica
Maria da Conceição Nazaré, filha de Oxum, era do terreiro do Gantois.
Considerada a grande mãe-de-santo do Candomblé no Brasil, Menininha do Gantois
foi uma grande líder espiritual que ajudou a tornar mais aceita a religião
herdada de seus ancestrais africanos.
"Menininha"
foi o apelido que a avó deu a menina pobre da periferia de Salvador, que dava
aos bonecos improvisados os nomes das divindade do Candomblé: Oxossi, Ogum,
Oxum e outros. Além disso, desde pequena gostava de jogar búzios. Era bisneta
de Maria Júlia da Conceição Nazaré, que havia fundado, em meados do século 19,
o Ilê Iya Omin Axé Iyamassê, mais conhecido como terreiro do Gantois (nome do
antigo proprietário francês do terreno).
Sob
a orientação das mulheres da família, Menininha foi iniciada nos segredos da
religião africana e preparada para o cargo que assumiria no futuro, de ialorixá
(mãe-de-santo, na língua ioruba). Menininha trabalhou como costureira e aos 29
anos, casou-se com o advogado Álvaro McDowell de Oliveira, descendente de
ingleses, com quem teve duas filhas, Cleusa e Carmem.
Com
a morte de sua tia-avó, mãe Pulchéria, segunda ialorixá a governar o Gantois,
menininha assumiu a responsabilidade de administrar um dos terreiros mais
antigos de Salvador, formar filhos-de-santo e ser a líder espiritual de
centenas de pessoas.
Em
1924, prestes a completar 30 anos, Menininha mudou-se para o Gantois junto com
o marido e a filha mais velha. A partir de então, passou a ser conhecida como
Mãe Menininha do Gantois. Na época enfrentou preconceitos e perseguições e teve
que se impor com sabedoria. Segundo a lei, as festas só poderiam ser realizadas
em determinados horários e mediante uma autorização por escrito. Mas isso, não
impedia que os policiais invadissem os terreiros, com violência.
Os
anos de opressão só terminaram em 1976, quando o então governador da Bahia,
Roberto Santos, sancionou um decreto liberando as casas de Candomblé da
obtenção de licença e do pagamento de taxas à delegacia de Jogos e Costumes.
Com o passar do tempo, a popularidade de Mãe Menininha foi crescendo. Nos anos
80, turistas, políticos, artistas e intelectuais a procuravam em busca de
conselhos, orientações ou informações para suas pesquisas.
A
ialorixá também recebia as pessoas humildes e sempre oferecia café ou comida
aos visitantes, fossem eles pobres ou chefes-de-Estado. Sua aversão à fama não
impediu que recebesse diversas homenagens, especialmente de artistas e amigos
ilustres. Entre elas, a mais conhecida é a música "Oração a Mãe
Menininha", que Dorival Caymmi compôs em 1972.
https://educacao.uol.com.br/biografias/mae-menininha-do-gantois.htm
Luz
Del Fuego
Luz
del Fuego, nome artístico de Dora Vivacqua, (Cachoeiro de Itapemirim, 21 de
fevereiro de 1917 — Rio de Janeiro, 19 de julho de 1967) foi uma bailarina,
naturista e feminista brasileira. Dora foi a décima quinta filha de Etelvina e
Antonio Vivacqua, de famílias oriundas da imigração italiana no Espírito Santo.
Foi irmã do senador Attilio Vivacqua. Luz del Fuego teve sua vida levada para o
cinema em um filme estrelado por Lucélia Santos, que no entanto não retrata nem
de perto o que foi a vida desta lutadora. Dança - Em 1944 inicia suas
apresentações como bailarina, usando o nome artístico "Luz Divina",
no picadeiro do circo "Pavilhão Azul".
Posteriormente
por sugestão do amigo e palhaço Cascudo, mudaria o nome para Luz del Fuego,
nome de um batom argentino recém-lançado no mercado. Ele acreditava que o nome
em espanhol atrairia o público.Depois de um tempo estudando na Europa, Luz del
Fuego volta ao Brasil em 1950 e começa a revolucionar os costumes do povo
brasileiro.
Naturismo
Ela
traz da Europa algo que de imediato associou com a história dos primeiros
brasileiros (os índios). Luz del Fuego apresentava-se seminua com uma ou às
vezes duas cobras jibóias enroladas em seu corpo e ficou muito famosa em sua
época. Adepta da alimentação vegetariana e do nudismo, não fumava, nem ingeria
bebidas alcoólicas e, através de uma concessão da Marinha, obteve licença para
viver na ilha Tapuama de Dentro, que foi por ela rebatizada como "Ilha do
Sol" e onde fundou o primeiro clube naturista do Brasil, o "Clube
Naturalista Brasileiro".
Luz
del Fuego, devido a sua coragem para enfrentar o preconceito de sua época com
relação ao nudismo, e pelo pioneirismo na criação do primeiro clube naturista
do Brasil, tem hoje sua data de nascimento, 21 de fevereiro, lembrada e
comemorada entre os naturistas brasileiros, como "Dia do Naturismo".
Sua
famosa frase que retrata bem o seu pensamento: “Um nudista é uma pessoa que
acredita que a indumentária não é necessária à moralidade do corpo humano. Não
concebe que o corpo humano tenha partes indecentes que se precisem esconder”.
Na
primeira metade dos anos 50 ela fundou um Partido Político chamado Partido
Naturalista Brasileiro e se candidatou a Deputada Federal por este partido.
Importante
observar que atualmente, o termo naturalismo é apropriado para quem é
especialista em história natural, ficando o termo naturismo associado para as
pessoas que praticam o chamado "nudismo social".
Morte
Em
1967, Luz del Fuego e seu caseiro foram assassinados, seus corpos foram
amarrados em pedras e depois lançados para o fundo do mar. Após a sua morte, a
Ilha do Sol voltou a ficar desabitada. A construção resiste ao tempo, com as
paredes e a laje em perfeitas condições, onde inclusive, ainda se podem ver
desenhadas na laje as duas cobras que ajudaram a eternizar a imagem da
dançarina.
De
acordo com o depoimento de Alfredo Teixeira Dias, revelou-se que no dia 19, por
volta das 18 horas, partiu com o irmão para a Ilha do Sol, onde não puderam
desembarcar porque os cães da ex-vedete logo notaram a presença de estranhos.
Conseguiram entretanto, com todo cuidado, cortar a corda que amarrava uma canoa
de Luz del Fuego. Levaram-na até a Ilha das Capuanas, já planejando atrair a
ex-vedete para uma armadilha.
Mozart
Gaguinho gritou então, chamando Luz del Fuego, que logo apareceu, de calça, à
beira do cais, com um revólver calibre 38 na mão e perguntando o que “havia”.
Gaguinho respondeu que a sua canoa se afastara.
Disse
Alfredo que Luz del Fuego não relutou em embarcar na canoa dos dois, a fim de
recuperar a dela. Pouco depois, Mozart Gaguinho pediu que Luz del Fuego lhe
entregasse a arma. Nesse momento, Alfredo deu uma pancada em sua cabeça, com um
cacete. Em seguida, mais dois golpes fatais.
Deixaram
o corpo na Ilha das Capuanas de Baixo e voltaram à Ilha do Sol, onde chamaram o
vigia Edgar. Pediram que êle trouxesse uma corda e um remo, a fim de que a
canoa de sua patroa fosse rebocada. Edgard, segundo disse Alfredo, não veio com
os objetos solicitados, mas com uma foice. Hesitou um pouco, mas decidiu entrar
no barco de Alfredo e Gaguinho, sentando-se entre os dois.
Os
dois cadáveres, colocados em uma baleeira com algumas manilhas e duas enormes
pedras, depois de retiradas as vísceras, à faca, foram ao fundo a 200 metros da
Ilha do Sol para onde, em seguida, Alfredo e seu irmão se dirigiram, assaltando
a casa da vítima. Levaram para a Ilha do Pontal tudo que haviam encontrado de
valor - uma radiovitrola, dois rádios de pilha portáteis, uma máquina de
costura e NCr$ 80,00 (oitenta mil cruzeiros antigos) , encontrados numa bolsa,
sob um travesseiro. Apanharam ainda um lampião a gás, várias tarrafas de nylon,
um binóculo e os óculos de Luz del Fuego.
Afirmou
ainda Alfredo que, na madrugada do dia 21, Mozart Gaguinho o levou da lha do
Pontal para a Ilha do Governador.
Disse
que há cerca de sete meses, Luz del Fuego indicou à Polícia o lugar onde êle,
foragido do Presídio-Geral do Estado, estava escondido. Entretanto, Alfredo
conseguiu “enganar as autoridades”. Quanto ao irmão, Luz del Fuego entregou-o
certa vez à Polícia Marítima, que só não o prendeu devido a uma interferência
do guarda portuário Hélio Luís
Legado
Seu
legado permanece até hoje, e o naturismo brasileiro tem grande orgulho de ter
Luz del Fuego como uma de suas personagens históricas.
Também
o movimento feminista brasileiro deve muito a esta mulher de garra que na
década de 50 já lutava pela liberdade feminina, sendo muito conhecida uma frase
que repetia, a de que "daqui a 50 anos serei lembrada", talvez porque
já naquele tempo conhecesse as propriedades medicinais da Helioterapia e
Aeroterapia.
http://www.oarquivo.com.br/extraordinario/pessoas-especiais/1497-dora-vivacqua.html
Maria
Quitéria
Diz-se
que o soldado Medeiros, que em 1822 juntou-se às tropas que combatiam os
portugueses no movimento de Independência do Brasil, era muito hábil com as
armas, disciplinado e audacioso. Se por essas características qualquer
combatente já mereceria destaque, um detalhe o fazia ainda mais singular. O
soldado Medeiros era na verdade uma mulher: Maria Quitéria de Jesus Medeiros, a
primeira brasileira a integrar uma unidade militar no País.
Nascida
provavelmente em 1792 na Comarca de Nossa Senhora do Rosário, em Feira de
Santana (BA), filha de um fazendeiro da região, Maria Quitéria teve uma
infância livre e feliz até a morte de sua mãe, quando teve que assumir a tarefa
de cuidar dos dois irmãos mais novos. Em 1822, os partidários da Independência
do Brasil começaram a percorrer a Bahia à procura de voluntários e doações para
a luta contra os portugueses.
Ao
saber da convocação, pediu permissão ao pai para se alistar, mas ele não
deixou. Ela então se disfarçou de homem, tomando roupas emprestadas do cunhado
e, contra a vontade do pai, alistou-se no regimento de artilharia, como o
soldado Medeiros. Depois foi transferida para a infantaria e passou a integrar
o Batalhão dos Voluntários do Imperador, tornando-se a primeira mulher a
pertencer a um unidade militar no Brasil.
Duas
semanas depois, foi descoberta pelo pai, que a procurava. Entretanto, devido à
facilidade com que manejava as armas e por sua disciplina, o major Silva e
Castro não permitiu que ela fosse desligada do grupo. Maria Quitéria conquistou
o respeito dos companheiros, assumiu a sua condição feminina e não precisou
mais usar roupas masculinas. Destacou-se pelo seu entusiasmo e bravura. Sua
luta influenciou outras mulheres, formando um grupo feminino liderado por ela.
Depois
que D. Pedro I declarou a Independência do Brasil, em 7 de setembro, as tropas
portuguesas continuaram lutando no País. Na batalha que ocorreu na foz do rio
Paraguaçu, em solo baiano, o grupo de mulheres comandadas por Quitéria se
destacou. Quando os portugueses foram derrotados, em julho de 1823, Maria Quitéria
foi reconhecida como heroína das guerras pela Independência e homenageada pelo
imperador, recebendo o título de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro.
Mesmo
com roupas de soldado, muitos cronistas da época diziam que Maria Quitéria
mantinha sua feminilidade e tinha uma beleza marcante. Diz-se também que usava
uma farda azul com um saiote que ela mesma havia feito e um capacete com
penacho. Sua independência pessoal serviu de incentivo para os futuros
movimentos feministas.
Apesar
de suas lutas e conquistas pelo País, Maria Quitéria passou a viver no
anonimato após o casamento com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, antigo
namorado, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição. Depois da morte do
marido, foi para Feira de Santana tentar receber parte da herança do pai, mas
desistiu do inventário. Mudou-se com a filha para Salvador, onde ficou
progressivamente cega e faleceu em 1853.
Maria
Quitéria é patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.
Em 1953, aos cem anos de sua morte, o governo brasileiro decretou que o retrato
de Maria Quitéria fosse inaugurado em todos os estabelecimentos, repartições e
unidades do Exército do Brasil.
Fonte:
http://www.brasil.gov.br/defesa-e-seguranca/2012/04/maria-quiteria
Maria
Felipa, a Heroína Negra da Independência
Maria
Felipa retratada por Filomena Orge com base em relatos orais.
A
“Heroína Negra da Independência”, é assim que Maria Felipa de Oliveira é conhecida
pela população da Ilha de Itaparica, mas quem é essa figura sobre a qual pouco
ou quase nada se conhecia?
Sua
história ficou preservada na memória da população insular. Segundo os relatos,
Maria Felipa viveu na Ponta das Baleias, no Convento, casarão que
tinha esse nome “porque abrigava [...] os que só tinham de seu o sol e a lua” [1]. É descrita como uma negra alta e forte, que
vestia saias rodadas, bata, torso e chinelas.
Liderando
um grupo de mulheres e homens de diferentes classes e etnias, fortificou as
praias com a construção de trincheiras, organizou o envio de mantimentos para o
Recôncavo e as chamadas “vedetas” que eram vigias nas praias, feitas dia e
noite, a fim de prevenir o desembarque de tropas inimigas além de participar
ativamente de vários conflitos.
Durante
as batalhas, seu grupo ajudou a incendiar inúmeras embarcações: a
Canhoneira Dez de Fevereiro, em 1º de outubro de 1822, na praia
de Manguinhos; a Barca Constituição, em 12 de outubro de 1822,
na Praia do Convento; em 7 de janeiro de 1823, liderou aproximadamente 40
mulheres na defesa das praias de Itaparica. Armadas com peixeiras e galhos de
cansanção surravam os portugueses para depois atear fogo aos barcos usando
tochas feitas de palha de coco e chumbo.
Citada
claramente por alguns autores como Xavier Marques no romance histórico O
Sargento Pedro e pelo historiador Ubaldo Osório em A
Ilha de Itaparica. A história de Maria Felipa pode bem ter sido
inspiração para a Maria da Fé de Viva o Povo Brasileiro, obra de
João Ubaldo Ribeiro.
Diferente
das outras heroínas do panteão do 2 de Julho, Maria Felipa transgrediu os
padrões impostos pela sociedade por ser mulher e liderar um grupo armado e,
sendo negra e pobre, reivindicar direitos mesmo após o fim da guerra.
Na
primeira cerimônia de hasteamento da bandeira nacional, após a derrota
definitiva dos portugueses, na Fortaleza de São Lourenço em Ponta das Baleias,
Felipa e seu grupo do qual são conhecidas Joana Soaleira, Brígida do Vale e
Marcolina, invadem a Armação de Pesca de Araújo Mendes, português abastado, e
surram o vigia Guimarães das Uvas, evidenciando que as lutas da população
itaparicana não haviam terminado. Esse evento demonstra também a hostilidade
que havia entre a população brasileira, principalmente negra e mulata e os
lusitanos que resultavam em conflitos denominados mata-marotos.
Ilustração
de Bruno Aziz para a edição de 02 de julho de 2009 do jornal "A
Tarde"
Mulher,
pobre, negra, marisqueira, essas são características não só de Maria Felipa,
mas de um grupo que teve participação significativa no processo de libertação
da Bahia, mas que permanece, sob vários aspectos, ignorado.
Ela
é um símbolo de resistência, de uma população que mesmo notificada para deixar
a ilha pelo governo de Cachoeira, preferiu permanecer e lutar pela sua
liberdade. Numa passagem do romance O Sargento Pedro, os
homens estão se preparando para um ataque português e Maria Felipa segura uma
tocha para que os pescadores cavem uma trincheira, um deles diz “Estou
cavando a minha cova…” e é imediatamente retrucado por ela “Cava,
mas não p’ra ti. . .”[2]
Mesmo
sem comprovação documental sobre Maria Felipa, sua existência já está
registrada pela população itaparicana, através da memória que lhe confere diferentes
significados, para estas pessoas ela é um personagem real inserido em suas
histórias de vida e realidade social.
BIBLIOGRAFIA
AMADO,
Janaína. O Grande mentiroso: tradição, veracidade e informação em história
oral. História. São Paulo, n. 14, p. 125-136, 1995.
FARIAS,
Eny Kleyde Vasconcelos de. Maria Felipa de Oliveira: heroína
da independência da Bahia. Salvador: Quarteto, 2010.
MARQUES,
Xavier. Sargento Pedro: tradições da independência. 2. ed.
Salvador: Catilina, 1921.
REIS,
João José; SILVA, Eduardo. Negociação e Conflito: a
resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das
Letras, 1989.
RIBEIRO,
João Ubaldo. Viva o Povo Brasileiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1984.
TAVARES,
Luis Henrique Dias. História da Bahia. 10. ed. Salvador; São
Paulo: UNESP; Edufba, 2001.
______. Independência
do Brasil na Bahia. Salvador: EDUFBA, 2005
Fonte:
http://osheroisdobrasil.com.br/herois/maria-felipa-a-heroina-negra-da-independencia/
Luísa
Mahin
Nascida
em Costa Mina, na África, no início do século XIX, Luísa Mahin foi trazida
para o Brasil como escrava. Pertencente à tribo Mahi, da nação
africana Nagô, Luísa esteve envolvida na articulação de todas as revoltas
e levantes de escravos que sacudiram a então Província da Bahia nas primeiras
décadas do século XIX.
Quituteira
de profissão, de seu tabuleiro eram distribuídas as mensagens em árabe, através
dos meninos que pretensamente com ela adquiriam quitutes. Desse modo, esteve
envolvida na Revolta dos Malês (1835) e na Sabinada (1837-1838). Caso o levante
dos malês tivesse sido vitorioso, Luísa teria sido reconhecida como Rainha da
Bahia.
Como
negra africana, sempre recusou o batismo e a doutrina cristã, e um de seus
filhos naturais, Luís Gama (1830-1882), tornou-se poeta e um dos maiores
abolicionista do Brasil. Descoberta, Luísa foi perseguida, até fugir para
o Rio de Janeiro, onde foi encontrada, detida e, possivelmente,
deportada para Angola, Não existe, entretanto, nenhum documento que
comprove essa informação.
Fonte:
http://www.palmares.gov.br/?p=26662
Dandara
Guerreira
do período colonial do Brasil, Dandara foi esposa de Zumbi, líder daquele
que foi o maior quilombo das Américas: o Quilombo dos Palmares. Com ele,
Dandara teve três filhos: Motumbo, Harmódio e Aristogíton. Valente, ela foi uma
das lideranças femininas negras que lutou contra o sistema escravocrata do
século XVII e auxiliou Zumbi quanto às estratégias e planos de ataque e defesa
da quilombo.
Não
há registros do local onde nasceu, tampouco da sua ascendência africana.
Relatos e lendas levam a crer que nasceu no Brasil e se estabeleceu no Quilombo
dos Palmares enquanto criança. Ela foi uma das provas reais de que a mulher não
é um sexo frágil. Além dos serviços domésticos, plantava, trabalhava na
produção da farinha de mandioca, caçava e lutava capoeira, além de empunhar
armas e liderar as falanges femininas do exército negro palmarino.
Sempre
perseguindo o ideal de liberdade, Dandara não tinha limites quando o que estava
em jogo era a segurança do quilombo e a eliminação do inimigo. Ela defendia que
a paz em troca de terras no Vale do Cacau, que era a proposta do governo português,
seria um passo para a destruição da República de Palmares e a volta à
escravidão. Suicidou-se depois de presa, em seis de fevereiro de 1694, para não
voltar na condição de escravizada.
http://www.palmares.gov.br/?p=33387
Leolinda Daltro, a
Mulher do Diabo
Foi
esse o apelido que chicoteou Leolinda Daltro nas ruas: Mulher do Diabo. Em
1909, num país densamente católico, ser a “mulher do diabo” equivalia a ser
separada, ser ousada, falar de política, ser feminista, ter amizades
masculinas, questionar o catolicismo, reclamar o voto, se preocupar com índios,
doutrinar. Leolinda cumpria criteriosamente todos esses requisitos.
Nascida
na Bahia em 1860, não deixou que nada a fixasse ao solo: sabe-se que teve cinco
filhos, todos criados por familiares, enquanto Leolinda percorria o Brasil
disseminando ideais. Indigenista, defendia até a exaustão que os índios
brasileiros fossem incorporados ao restante da sociedade, apoiando
uma escolarização laica, que fugisse totalmente dos padrões jesuítas ainda
presentes no Brasil. Num momento onde a questão do quê fazer com o índio era
dividia em duas lógicas (ou dizimá-los sob argumento de “população estranha e
inútil”, ou catequizá-los, aculturando-os totalmente), a alternativa de
Leolinda era em favor da vida e da contribuição social do índio, e da
manutenção – ainda que reduzida – das suas práticas culturais.
Traçou
um ambicioso projeto de penetrar nos sertões e educar os índios às suas custas
e providências. O projeto incomodou os dois pilares da elite brasileira à
época: a Igreja e os proprietários de terra. O trabalho de Leolinda foi se
tornando insustentável, mas a professora seguiu sua jornada até 1897,
sendo exposta ao ridículo e ironizada em todas as cidades que passava.
Precursora das discussões iniciais da questão indígena no Brasil, não ficou
só no discurso: usou de seu corpo e recursos para pulverizar seu plano
alternativo às ideias vigentes. No entanto, quando o Serviço de Proteção ao
Índio foi criado (1910), bem depois de suas excursões pedagógicas pelo Brasil,
Leolinda não foi convidada a integrá-lo.
Fundou
o Partido Republicano Feminino antes mesmo que as mulheres pudessem votar,
tamanha sua ânsia por inserir a pauta da mulher no desenvolvimento político
brasileiro. Pouco antes, entrara com pedido de alistamento eleitoral, que foi
veementemente negado. Para pressionar o governo, fundou o partido. Junto da
amiga e também ativista Orsina Fonseca, criou a Linha de Tiro Orsina
Fonseca, no intuito de prover treinamento com armas de fogo para mulheres,
inexistente à época. Em 1918 foi acusada por um leitor do Jornal do
Brasil de estar “interessada na masculinização de seu adorável sexo”.
Dado seu direito de resposta pelo jornal, ironizou-o de neurastênico e “Adão
zangado”. Este, infelizmente, não foi o único desacato que Leolinda enfrentou.
Durante
toda sua vida política, como feminista, Leolinda conviveu com uma das mais
aterradoras armas contra a voz da mulher: o ridículo. Apontada na rua,
alcunhada em ironias e em risadas, Leolinda atou sob os olhares gozadores
de quem a achava ingênua por sua luta, “digna de dó”. Sabe quando você precisa
ser firme, e a chamam de “louca de TPM”, ou quando age com mansidão,
e a intimidam como “mulherzinha que não aguenta pressão”? Essa foi toda a vida
de Leolinda. Num período da história em que as condenações massacravam as
manifestações de apoio.
Declarou-se
uma mulher feliz e plena ao saber, em 1932, três anos antes de sua morte,
que o voto feminino estava instituído. Seu livro Da Catequese dos
índios no Brasil – Notícias e documentos para a História relata sua
luta pelos povos indígenas a partir de seus registros e anotações do Sertão.
Morreu num acidente de carro, em 1935.
Em
2013, o estado do Rio de Janeiro instituiu o Diploma Mulher Cidadã Leolinda de
Figueiredo Daltro, condecorando a cada ano dez mulheres de destaque na defesa
dos direitos e da representação feminina.
https://asminanahistoria.wordpress.com/2015/09/29/leolinda-daltro-a-mulher-do-diabo/
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